GINÁSTICA RÍTMICA – ESCRITOS DE SOFIA

Pela primeira vez em um bom tempo eu decidi retornar aqui para falar sobre esse esporte que sempre me encantou, algumas vezes mais e outras menos, mas que nunca trouxe tantas emoções ao mesmo tempo como nesse mundial. Em um contexto tão amargo como o dos últimos anos que vivemos, e ainda mais difícil para algumas pessoas que são tão queridas para nós nesse mesmo ano, chegamos a um mundial sem favoritos diretos, com muitas possibilidades para países que nunca pisaram no pódio, ou que não pisam neste mesmo lugar há décadas.

Eu poderia falar de todos os resultados em geral, mas cada um pode tomar seu tempo de pesquisar eles na Wikipedia. O que me interessa aqui é o time brasileiro e a participação das nossas meninas em Sofia—e também falar de tudo que eu senti nestes últimos dias.

INDIVIDUAL

As nossas duas ginastas tiveram uma participação que foi de altos e baixos, bastante agridoce para alguns, e um pouco mais feliz para outros. 

Bárbara Domingos, que é o grande nome da nossa ginástica dos últimos anos e que conseguiu as melhores posições para uma ginasta brasileira em mundiais, teve um ano complicado por causa da cirurgia que fez, da longa recuperação, e de ter que chegar agora no fim da temporada sem ter tido muito tempo de corrigir suas séries a tempo do mundial, e de poder ter uma preparação que lhe deixasse na melhor forma para a competição.

Eu vi ela no treino-controle uma semana antes do mundial, e acredito que o ponto alto do rendimento dela foi atingido ali, porque pudemos ver as quatro séries da Babi com muita desenvoltura, boa execução em praticamente todas as dificuldades propostas por ela, e bastante polidez em todas as suas rotinas.

Porém nos dois dias das classificatórias nós vimos uma Babi sem brilho, talvez sentindo a preparação mais corrida que ela teve para esse mundial, e sem conseguir mostrar o melhor trabalho dela.

Não tenho dúvida alguma que em um bom dia ela poderia ter entrado na final do Individual Geral, e quem sabe, até na final da fita, pois ela acabou ficando com uma das melhores notas de artístico nessa série entre todas as ginastas da competição. Para os meus olhos as séries da Babi são muito competitivas a nível mundial, e ela tem grandes chances de ser uma das candidatas ao ouro nos Jogos Pan-Americanos do ano que vem. 

Só que ela tem que chegar inteira para a competição.

Penso que talvez o calendário que foi oferecido a ela tenha ficado muito apertado, com o Campeonato Brasileito numa semana seguida de uma WCC, onde o rendimento dela já caiu. Somando isso aos treinos na Bulgária que ela fez, as mudanças nas séries para se adequar ao máximo nos parâmetros das bancas de arbitragem, me parece que faltou tempo para ela poder chegar inteira no campeonato, descansada, pronta para alcançar outro pico no rendimento dela. 

Essa situação toda é uma pena, mas a vida é assim, e novas oportunidades virão para ela.

Por outro lado com a Geovanna Santos, a Jojô, vimos uma estreante em mundiais fazendo uma competição muito boa, mas que acaba me lembrando do modus operandi dela— uma série acaba sempre sendo vítima de um infortúnio, como a bola aqui em Sofia. Sem aquela falha na bola, veríamos ela no Individual Geral também, não tenho dúvidas.

Mas há também que se dizer que a Jojô competiu muito bem. Em especial no segundo dia, onde as séries mais expressivas dela estavam. A gente não viu ela com medo do tablado, pelo contrário, ela é uma das meninas que mais garra tem ao competir, e dentro de quadra nós vemos a Jojô como um furacão. Em nenhum momento eu senti ela mal-preparada para o mundial, talvez fruto do seu tempo de descanso desde o Brasileiro até agora, e da recuperação de uma lesão, o que possibilitou que ela conseguisse alcançar outro pico de rendimento em Sofia.

Acredito que ela também tenha muitas chances de se colocar como uma das favoritas para medalhas em competições do nosso continente, como ela foi esse ano. E também vejo ela com chances de alcançar finais mundiais, o que seria mais do que histórico para nosso país. Alguém já cogitou a possibilidade de duas brasileiras em um Individual Geral? 

Acho que a trajetória dela nessa temporada foi muito produtiva, e mostrou uma progressão incrível, de uma ginasta que entrou sem grandes expectativas para o ano, mas que mostrou desde a primeira competição que estava muito preparada para encarar todos os desafios propostos. E também pudemos ver como ela conseguiu evoluir a montagem das séries a ponto de colocar os elementos que melhor poderiam ser avaliados pela banca, sempre tentando espremer o máximo de pontos possíveis em cada rotina. 

De cara para o resto do ciclo, vejo essas duas meninas como ponteiras importantes para o time brasileiro, e com muitas possibilidades de resultados inéditos que podem vir das mãos delas. Mas nós sabemos que existem outras tantas da categoria adulta, e da juvenil também, que não vão deixar essa disputa por vagas ser fácil.

Ainda veremos ambas competindo esse ano nos Jogos Sul-Americanos, onde espero muitas medalhas com o nome delas.

CONJUNTO

Antes de eu dizer qualquer coisa sobre o conjunto, eu queria deixar claro que me emocionei muito, como nunca antes. Mas esses bons resultados não me vieram como uma surpresa. O que veio como a maior surpresa para mim foi o fato de que o nosso conjunto ficou ratificado no mundial com a série com mais alta dificuldade da competição toda. TODA. Ninguém, seja individual ou conjunto, tirou uma nota de dificuldade maior que a nossa. E sinceramente? Meu queixo caiu.

Não que eu não soubesse do potencial das séries, pois eu faço fichas de muitas séries para comparar os conjuntos e ginastas, mas eu não esperava uma avaliação tão positiva para nosso conjunto. Por isso, de antemão, eu queria dar os parabéns para as pessoas envolvidas com o treinamento do conjunto, e em especial Camila e Bruna, que carregaram essas meninas junto com tantas outras pessoas que certamente as ajudaram ao longo dessa temporada. E um parabéns para as nossas meninas, que entraram para encher o nosso coração de orgulho no tablado do mundial.

Mas agora, voltamos à nossa programação habitual. 

Como tem sido todo o ano para o conjunto, nós fizemos uma competição com falhas, contudo, dessa vez as meninas não deixaram que os erros fossem grandes o bastante para destruir o que de bom elas fizeram dentro de quadra. E pela primeira vez na história o nosso conjunto entrou entre os 5 melhores do mundo, feito que repetiu na final dos cinco arcos, mostrando que o trabalho está aí, e deu resultados.

Se poderíamos ter chegado no pódio? Não tenho dúvida alguma disso. O esporte é uma caixa de surpresas e essas séries poderiam ter alcançado melhores resultados ainda, especialmente sem as falhas no exercícios de fitas e bolas. Mas competição é sempre impossível de prever, e certamente eu não teria previsto esses resultados com certeza alguma, mesmo sabendo da possibilidade deles. 

Aliás, as meninas fizeram o papel delas, especialmente na final. Não acho que seria fácil entrar no pódio, mas elas se colocaram ali prontas para esperar o deslize de alguém. A Bulgária caiu, mas a Espanha não, por isso ficamos em quarto. Mas quem pode saber o que acontece da próxima vez?

Alguns podem dizer que esses resultados foram alcançados sem dois conjuntos fortes, mas nossas notas ficaram competitivas com outros conjuntos muito importantes, como Itália e Bulgária. Sem falar que passaram pelo crivo da arbitragem, e mostraram que o crescimento ao longo do ano também esteve ali.

Acredito também que a jornada da nossa série de arcos foi concluída com sucesso nesse mundial, e na minha opinião, essa rotina deveria ser mudada para o ano que vem. Já o misto, que foi performado em competição apenas uma vez sem falhas grandes, deveria passar por mais reformulações e retornar para o ano Pan-Americano. Especialmente por ser uma série que foi muito elogiada em todos os lugares que passou.

E o que esperar das nossas ginastas para o futuro? 

Eu espero que cada vez mais se possa trocar experiências e ideias entre técnicas, a fim de melhorar ainda mais a nossa competitividade dentro do meio da GR. Temos chance de estar entre os cinco melhores times do mundo, na competição por equipes onde as notas do individual e do conjunto são somadas. Temos chances de pegar finais, tanto no individual como no conjunto, e também de carimbar o passaporte olímpico já no ano que vem. Acho isso tudo muito possível, porém, não existe garantia de nada.

Não sabemos se a guerra irá acabar logo e a FIG encontrará uma brecha para incluir Rússia e Belarus de volta nos campeonatos. Não sabemos se mais ginastas e conjuntos irão subir de nível e nos alcançar, ou nos passar. Não temos controle sobre nada do que acontece em outros países. Porém, essa experiência do mundial tem que mostrar que os técnicos aqui do Brasil sabem fazer GR. E é necessário e essencial que todos continuem no caminho, e cresçam mais ainda. Não se pode fechar os olhos para a evolução de outros países e depois correr atrás do tempo perdido, como se fez muito em anos passados. Não se pode, em momento algum, fingir que se é o melhor sem fazer por merecer—porque vale muito mais a pena mostrar um trabalho bem feito e ser premiado em uma banca neutra.

P.S.: Um abraço a todos que colaboram com opiniões, dicas e apoio. E um belo aceno aos que ainda procuram um bode expiatório para culpar pelas minhas opiniões. 

GINÁSTICA RÍTMICA – MAIOR MEDALHISTA DO BRASIL PEDE POR AJUDA

Essa postagem se explica por si só. E eu como acompanho a batalha da Angélica nos últimos anos, me senti intuído a divulgar por aqui também as formas como você pode ajudar ela e sua família. Quem puder, o faça.

Agradeço o carinho de todos que continuam aqui.

GINÁSTICA RÍTMICA – DENÚNCIAS DE ABUSO MORAL – O LIXO SEMPRE RETORNA BOIANDO

https://globoplay.globo.com/v/9117095/

Nunca antes senti tão pouca vontade de continuar a ser fã deste esporte aqui no Brasil. Muito se fala dos casos de abuso, e recentemente parece que se abriu uma janela para a alta cúpula da GR no Brasil, e começamos a ver tanto sobre como as atletas são bem tratadas e como o trabalho tem sido bem feito–e não admira o motivo de isso acontecer. O lixo sempre retorna boiando, e é impossível esconder ele por muito tempo.

Não é de agora que se sabe o que acontece. Não é surpresa para muitos que convivem nos bastidores da modalidade, mas na hora de mostrar a cara se parece fácil mentir. Fingir que está tudo bem, que o sacríficio físico e emocional vale à pena, que o que se deixou no tablado de treinamento foi para o bem. Muito mais fácil se blindar com pessoas dispostas a mentr junto e esconder o que realmente acontece do que admitir os erros.

Não importa se esse tipo de tratamento traz resultados fora daqui. Não importa se isso transforma muitas outras em campeãs, porque isso não é humano. E se vangloriar de ter aguentado o sofrimento em troca de poucas sobras é mais vergonhoso ainda. Não basta apenas desfazer de quem teve coragem de colocar a cara para denunciar o abuso que sofreu, ainda tem que lidar com pessoas dentro do próprio esporte, pessoas que deveriam saber muito mais do que abrir a boca sem respeito ao próximo.

Fui alvo de muitas críticas durante os anos por tudo que postei, mas em momento algum ofendi a alguém, denegri sua imagem pessoal. Em momento algum fiz de menos do trabalho dos outros, a não ser quando eles mesmo não davam valor ao próprio trabalho, mas nunca abusei emocionalmente ou fisicamente de alguém. Disto não me arrependo.

Mas o que se faz com as atletas aqui é outra coisa.

Se elas cometem erros, pois sim. Todos cometemos. Mas burlar a dieta, ter mau comportamente, desobedecer regras, são coisas que humanos fazem. Agora, desumanizar aos outros, tratar pior do que animais em abatedouros, e agir como se isso fose o único caminho para o sucesso, é no mínimo criminoso–mas vamos todos nos abraçar e fingir que a culpa aqui não é de ninguém.

Não só uma ginasta veio até mim contando do que passaram ao longo dos anos, inclusive ginastas de seleção brasileira–e pasmem, até meninas fora dessa janela de preparação para o Rio, o que nos faz pensar que esse tipo de tratamento estrutural não terminou com as Olimpíadas. E seria ingenuidade minha e sua pensar isso.

Não é meu trabalho citar nomes. Mas que fique bem claro que eu e todos aqui estamos vendo tudo, com olhos atentos. Técnicas que criticam a quem teve coragem de denunciar abuso deveriam ser excluídas da modalidade. Não deveriam ter espaço. Ginastas que não se compadecem também não merecem nosso carinho. Todos e todas que de alguma forma querem calar as vozes dos que deram a vida pelo esporte e hoje sofrem por causa disso, não deveriam ser dignos de nota. Quem luta contra o bem-estar dessas atletas deveria ter vergonha de continuar na modalidade. Não querem construir atletas, querem as destruir, e com isso também destroem o esporte.

E não adianta uma série de vídeos no Instagram para limpar os erros da história.

Ou tirar a balança do ginásio quando ela esteve lá todos esses anos.

Não adianta fingir que agora tudo está diferente, porque não está.

Não adianta mentir.

Aos que colocam cara à tapa, parabéns pela coragem. Aos que criticam quem teve coragem de fazer o que muitos não conseguiram, obrigado por nos mostrar quem realmente são.

GINÁSTICA RÍTMICA – CONJUNTO BRASILEIRO TROPEÇA PERTO DA VAGA OLÍMPICA EM BAKU

Hoje tivemos a competição do Conjunto Geral no Mundial de Baku, classificatório para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Previamente a esse mundial, sabíamos que a competição iria ser muito difícil para nossas meninas, e que elas teriam mais chances de se classificar aqui no campeonato continental do que lá no mundial, mas a competição se revelou muito auspiciosa para a classificação delas. Infelizmente, nosso conjunto não conseguiu responder a altura do desafio.

Já na primeira rotina tivemos algumas falhas, e foi possível ver que as meninas foram a assegurar a série, tirando alguns critérios nas colaborações que nos dariam mais nota. Houve uma falha em uma dificuldade corporal, e algumas falhas menores pela série, mas foi longe de ser uma rotina ruim. Nossa nota, 25,450, foi relativamente boa para a competição, especialmente vendo que Uzbequistão e Finlândia estiveram fazendo rotinas não tão regulares, e a Ucrânia também teve uma falha grande no conjunto misto.

Isso abriu uma janela para nosso conjunto. A nota da segunda prova seria providencial para conquistar a vaga direta para Tóquio – de forma indireta, contudo, porque ela só seria oferecida depois do campeonato continental do ano que vem. Mas nossa missão era executar a rotina sem falhas, e acredito que estaríamos nessa posição, no nono lugar, que além de ser uma colocação muito boa para nós, a seleção já iria estar a caminho das Olimpíadas.

Infelizmente, falhas aconteceram outra vez, e o conjunto acabou por ficar com uma nota menor, 24,250, finalizando a competição na 13ª posição.

A melhora do ano passado para esse foi grande, nossas séries são difíceis, nossa competição foi bem melhor, subimos posições, mas ainda ficamos atrás de outros países da América, como México e Estados Unidos. Pior que isso, ficamos fora de uma vaga direta, e nossa única chance é ganhar o Campeonato Pan-americano de 2020.

E há que se lembrar que não mantemos mais a hegemonia aqui na América.

Eu parabenizo a seleção pela evolução, mas é preciso ir mais alto. Nossas séries foram executadas com um bom nível em poucas ocasiões. Temos menos do que 25% de aproveitamento em competições – fazer séries sem faltas graves. Ainda assim, aumentamos proverbialmente a nossa nota, especialmente a dificuldade. Me parece que essa é a única solução para galgar melhores rankings. A execução de conjuntos do segundo escalão dificilmente vai chegar perto dos 8 pontos, que é o nosso caso, então é necessário compensar com a dificuldade.

Até maio de 2020 ainda tem tempo para essa melhora acontecer, mas lá vai ser a nossa última chance de conseguir uma vaga – quando conjuntos como México e Estados Unidos tem mais oportunidades de conseguir essa vaga, já que ficaram mais bem colocados que nós.

Resultados completos podem ser encontrado AQUI.

 

GINÁSTICA RÍTMICA – A MELHOR COMPETIÇÃO INDIVIDUAL DO BRASIL NA HISTÓRIA?

Hoje tivemos o encerramento das provas classificatórias do individual no Mundial de Ginástica Rítmica de Baku, Azerbaijão, onde ficaram conhecidas as 24 ginastas que irão brigar pelo título mundial, bem como pelas vagas olímpicas para Tóquio-2020. Nessa semana de competições individuais, vimos a Rússia se sagrando com todos os ouros mais uma vez, o que já era de se esperar, mas para nós aqui do Brasil, tivemos o privilégio de presenciar um momento histórico para nossa ginástica.

Para Baku, levamos um time pequeno, apenas duas ginastas, mas posso afirmar que as duas tinham capacidade de conseguir boas posições e representar muito bem o nosso país. Ainda assim, não esperava uma competição tão disputada a nível mundial, e me surpreendi com o alto nível de alguns países.

Levando em consideração nosso nível, as nossas representantes não fizeram feio, longe disso. Mas não se pode esquecer de dar um destaque especial a Bárbara Domingos.

Em 2016, ela subiu para a categoria adulta, mas como naquele ano olímpico não tínhamos muitas competições a disputar, Bárbara teve que se contentar com sua o Campeonato Pan-americano apenas. Já em 2017, ficou de fora na seletiva para o mundial, mas com seu resultado no Campeonato Brasileiro da modalidade, conseguiu se elevar ao posto de segunda ginasta do time. E nesse lugar permaneceu por quase dois anos.

Contudo, isso não parecia o bastante para ela, que já no começo desse ano veio com séries fortes e batendo de frente com a outra ginasta que representa o Brasil na maioria das competições, nossa ginasta olímpica, Natália Gáudio. No Pan as duas ficaram próximas no Individual Geral, com a medalha de bronze adornando o pescoço de Natália, mas Bárbara já se sobressaiu ao classificar-se para as quatro finais, e terminou a competição com nosso melhor resultado individual da edição, uma prata na fita.

Para esse mundial, ela ainda vinha como a segunda ginasta da seleção, mas logo no primeiro dia despontou na frente com uma ótima nota–e não só isso, também o reconhecimento da comunidade internacional e da própria Federação Internacional de Ginástica. Eu estive presente em muitas discussões em fóruns internacionais e redes sociais, e muitos comentários positivos sobre nossa ginasta foram publicados.

Claro, não apenas sobre ela, já que a Natália também fez uma boa competição e tem sua fama internacional também, mas para o mundo da GR, está claro que um novo talento está colocando seu nome e o nome do nosso país lá fora.

Bárbara finalizou sua competição no 31º lugar, que é a segunda melhor posição para uma brasileira em mundiais–Inês Oliveira ficou em 16º lá em 1975, mas naquela época o alcance desses campeonatos era completamente diferente.

Nunca antes uma brasileira ficou tão próxima de se classificar, por méritos próprios, para uma final de mundial em tempos recentes, a Bárbara ficou apenas 0,750 de pegar uma vaga, e isso é um feito por si só. Temos também que levar em conta que ela fez tudo isso sendo a segunda ginasta do time, a que tende a receber menos oportunidades de nota em alguns momentos, mas foi bom que ela não ficou prejudicada dessa vez.

Além de todas essas boas notícias, a Bárbara foi a melhor ginasta das Américas, fora as estado-unidenses, o que coloca ela com boas chances de conseguir uma vaga para as Olimpíadas ano que vem, mas isso ao futuro pertence.

Para o momento, apenas parabenizo a todos que apoiaram nosso esporte e querem que ele cresça. Nosso time é formado por muita gente, não só ginastas e técnicos, e por mais que algumas pessoas queiram limitar nosso talento por conta de seus egos.

Não existe apenas uma ginasta no Brasil, existem muitas. E cada uma tem seu lugar na história.

Mas agora é a vez da Babi.

 

Os resultados da competição podem ser encontrados AQUI.

GINÁSTICA RÍTMICA – OS JOGOS DOS CONJUNTOS

Essa postagem é uma tradução livre, adaptada do blog de Lidia Vynogradna, uma das melhoras juízas da Ucrânia. Alguns pontos foram reformulados para melhor entendimento, e trechos alterados. O original pode ser visto AQUI.

Eu [Lidia] nunca toquei nesse tópico, mas em algum momento preciso revelar o que realmente está acontecendo com todas essas notas crescendo 30% em apenas um ano.

Exercícios de conjunto na Ginástica Rítmica são julgados da mesma forma como os exercícios individuais, exceto pela parte das Maestrias que são substituídas Colaborações. E como não há limite no número de colaborações, você pode colocar em sua rotina quantas quiser.

Se uma maestria no individual é clara em sua definição (menos a parte “difícil” dos critérios, pois as nuances de dificuldade são complexas para se definir), nas colaborações a definição de dificuldade é mais bem explicada, mas muito delicada para ser vista pelo olho humano.

Para uma pessoa entender, vamos ver um exemplo.

Isto é um pedaço de alguns segundos de uma série com dois minutos e meio, da Bulgária. Durante esse tempo, os juízes precisam identificar e escrever o seguinte:

  • duas ginastas lançando seu aparelho, passando por cima de uma ginasta, e recuperando o aparelho fora do campo visual, sem o uso das mãos.
  • ao mesmo tempo, perceber que uma das ginastas no fundo da quadra lança duas bolas, e o faz de costas para suas colegas, o que significa que ela também lançou fora do campo visual.

Tendo assistido esses dois segundos, os juízes precisam analisar tudo isso (e apenas ler isso tomou mais do que a própria duração da colaboração) e escrever os símbolos, além de calcular o valor do que foi executado.

O que o juiz precisa escrever é:

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Pontuação total da colaboração: 0.9

E esse nem é o caso mais difícil. Complicado é quando as ginastas estão distribuídas pelos cantos da quadra, e você tem que focar seu olho em apenas uma parte do que acontece.

Nessa colaboração, o juiz vai se focar no grupo de ginastas ao centro, e provavelmente vai perder o lançamento múltiplo à esquerda.

Neste caso, o juiz tem que ver:

  •  uma ginasta que lança a bola para a parceira (e é importante ver onde todos os aparelhos estão indo), faz a rotação por cima de outra parceira e recupera a bola de outra ginasta fora do campo visual, e sem as mãos.
  • ao mesmo tempo o juiz precisa analisar o primeiro lançamento da ginasta, se foi fora do campo visual ou não – já que a parceira estava atrás dela e o lançamento era “cego”.
  • e o juiz precisa ver o lançamento múltiplo da ginasta à esquerda e que ela vai receber uma bola da parceira à sua direita.

Tendo analisado isso, o juiz precisa escrever tudo o que viu, os símbolos e seu valor. E com rotinas recheadas de colaborações simultâneas, uma logo após a outra, o cérebro precisa entrar em um modo Einstein.

Não creio que seja algo humanamente possível. Na verdade, EU SEI que não é humanamente possível. Todos sabem. Mas nada está acontecendo para que isso seja ADMITIDO, além de modificado.

Durante as Copas do Mundo, o Comitê Técnico da modalidade tentou padronizar as colaborações ao dar um limite restrito para a definição da altura dos lançamento, o que levou alguns conjuntos a terem colaborações rejeitadas na avaliação. Como essa em que a Ucrânia teve que mudar ao longo da temporada, pois o lançamento em que a ginasta captura a bola contra o solo com seu estômago era horizontal, e não vertical.

À propósito, o juiz precisa pensar nisso também, além do técnico ao coreografar a rotina. As definições trocam durante o ano e as rotinas precisam ser ajustadas para que TUDO possa ser contado. Se o juiz puder ver.

A vida de um juiz tem se tornado extremamente difícil. Ter que enxergar tudo que acontece na quadra é muito complexo, e exige demais da banca de arbitragem.

Sejamos transparentes: é impossível julgar D3 nesse momento (a banca que julga colaborações). Se você faz o seu melhor, você ainda vai perder critérios e colaborações que foram coreografadas na série. E daí começam as campanhas publicitárias, e os movimentos políticos internos. Um país diz “Ei, nós temos mais de 18 pontos em D3”, e se você calcula isso em torno dos 11, você deve ter errado em algum lugar. E se você voltar atrás para calcular o que não foi visto pelo seu olho na ficha, você só vai escrever coisas que na verdade não tem certeza se está certo ou não.

E então temos pontuações estranhas, e injustas.

E como justificar elas? Com um simples “Eu não vi, tentarei melhor na próxima vez”? Enquanto isso, as competições são definidas de forma superficial, prejudicando o trabalho de alguns países, e transformando o esporte em algo que é julgado mais pelo que acontece fora do tablado do que dentro dele.

 

GINÁSTICA RÍTMICA – O BRASIL NOS JOGOS PAN-AMERICANOS DE LIMA – 2019

Hoje ocorreram as últimas finais da competição mais importante das Américas – que talvez perca um pouco dessa importância sem decidir as vagas olímpicas – mas ainda assim é a que coroa as melhores ginastas do continente, e onde o Brasil sempre consegue seus resultados mais expressivos a cada ciclo olímpico.

Pra quem acompanha o esporte e sabe das expectativas do nosso time, eu não preciso comentar muito sobre como esse Pan foi de altos e baixos. Ganhamos algumas medalhas novas para ginastas que ainda não haviam sido laureadas, mas subimos a alguns pódios amargos em outras provas, ao mesmo tempo em que tropeçamos em algumas finais.

Já parto nesse começo parabenizando o conjunto brasileiro por conseguir três medalhas, duas de bronze e uma de ouro, o que não pode ser considerado um resultado ruim, mas que fica aquém do que tradicionalmente fazemos. Junto dessas medalhas, ainda conseguimos uma de bronze no Individual Geral com Natália Gáudio, sua primeira medalha em Jogos Pan-americanos, e uma prata de Bárbara Domingos, estreante na competição.

Perto das edições anteriores, como Toronto (2015), onde saímos com 2 ouros, 1 prata e 2 bronzes, ou Guadalajara (2011), quando tivemos 3 ouros, 1 prata e 3 bronzes, nossa competição em Lima ficou abaixo desses resultados. Mas existe a necessidadede mencionar que no individual não temos mais Angélica Kviecynski, nossa única multimedalhista Pan-americana no individual (já que no conjunto temos várias multimedalhistas), e levamos um conjunto recheado de meninas inexperientes, num time totalmente renovado, pela primeira vez desde 1999 sem nenhuma remanescente de edições anteriores.

Contudo, o nosso time chegou a competição com grandes ambições, levando as melhores ginastas que o país tem na modalidade.

Logo no primeiro dia, tivemos uma competição individual um pouco irregular para nossas duas ginastas. Tanto Natália como Bárbara, tiveram boas participações no arco, mas falhas grandes na bola. Em compensação, no conjunto, fizemos uma apresentação limpa, e que nos deixou na primeira colocação do Conjunto Geral.

No segundo dia, numa competição com muitas falhas das atletas canadenses, e com as mexicanas fazendo um trabalho decepcionante (não fosse o bronze de Karla Diaz na fita), conseguimos nos colocar em boas posições para o pódio, especialmente tendo em vista que as duas brasileiras competiram bem. Natália acabou no pódio, graças ao desempate da nota de Execução, e Bárbara ficou em quarto.

O conjunto, por sua vez, não resistiu à pressão da competição, e acabou tendo falhas graves, caindo para o terceiro lugar do pódio pela primeira vez em vinte anos.

No terceiro dia, com o começo das finais por aparelho, nossa ginasta número 1, Natália, participou apenas da final do arco, tendo terminado em 11º lugar na bola. Ela cometeu falhas novamente nesta final, e acabou caindo para o último lugar. Bárbara teve algumas falhas, mesmo se apresentando bem, mas não conseguiu alcançar o pódio.

Na bola, competindo sozinha, Bárbara fez uma apresentação boa outra vez, mas que mesmo assim não foi suficiente para subir ao pódio, terminando em quarto lugar.

Com o conjunto, em uma apresentação desastrosa outra vez, ficamos em terceiro, quase perdendo o bronze para as cubanas. Nossas falhas nos deixaram longe das notas conseguidas pelos times dos Estados Unidos e do México – este último que saiu como grande campeão dos conjuntos.

E no último dia das finais, começamos nas maças, onde Natália fez uma apresentação ligeiramente mais faltosa do que no AA, acabando com a quarta colocação, e Bárbara em quinto, com pontuação insuficiente para chegar ao pódio – ela teve constantes problemas para pontuar melhor mesmo acertando as séries.

Na fita, Natália abriu a competição e outra vez fez uma apresentação complicada, caindo para o último lugar da final, repetindo seu resultado no arco. Bárbara por sua vez, competindo em todas as provas individuais do Pan, e muito concentrada, conseguiu alcançar uma nota suficiente para uma prata, a melhor colocação do nosso individual desde a prata de Angélica nas maças em Guadalajara, 2011.

Na última final, com o conjunto misto, finalmente voltamos a acertar uma rotina, e com a ajuda das falhas dos outros países, garantimos o nosso único ouro nessa edição dos Jogos.

Pra quem quiser acompanhar os resultados completos desta competição, segue abaixo o link:

RESULTADOS COMPLETOS

Agora, o comentário.

Eu gostaria de deixar claro que estou feliz pelas medalhas conquistadas. Especialmente com Natália que compete há três ciclos, e finalmente conseguiu se coroar na competição, bem como Bárbara que teve uma jornada curta na competição adulta e já desponta como um talento grande. E nosso conjunto, que mesmo com falhas conseguiu se manter dentro do pódio nas três provas que disputou.

Ainda assim, essa competição me pareceu bastante problemática. A arbitragem parecia  insegura e os critérios de avaliação eram flutuantes, pra se dizer o mínimo. Muitos recursos pedidos, muitas notas mudando em uma competição que ficou sem uma tônica, seja leniente ou severa. Acho que a avaliação mais irregular foi nas maças, onde Bárbara abriu a competição do Individual Geral, fazendo uma série boa, sem faltas grandes, e mesmo assim ficou atrás de ginastas que tiveram falhas enormes, com perdas múltiplas do aparelho, perda de dificuldades corporais. Nota essa que, ultimamente, deixou a Bárbara no quarto lugar.

Isso pra não se destacar a avaliação dos conjuntos, que no primeiro dia foi mais severa, com notas mais controladas, mas já no segundo dia tivemos notas bem mais altas, assim como na final de bolas. Nosso conjunto com falhas grandes na final do conjunto simples tirou uma nota não tão distante da sua apresentação limpa da classificatória. E já na final do misto, com uma série limpa, ficamos longe da nota que as mexicanas tiraram na classificatória, e ainda ficamos atrás delas em dificuldade, o que me pareceu esdrúxulo, pra se dizer o mínimo.

Em Toronto, a banca foi bem mais severa em geral, e com todas as ginastas, o que acabou deixando a avaliação bem concisa e confiável. Nesses jogos, a arbitragem me pareceu um dos pontos negativos.

Mas em um ponto positivo, é preciso destacar a competição que Bárbara Domingos fez, conseguindo a classificação para todas as finais, competindo com regularidade tremenda, e mostrando estar bem preparada. Mesmo em sua prova mais importante, a fita, onde tinha mais chances de medalha, ela não decepcionou e conseguiu buscar o resultado.

Por outro lado, Natália, que teve algumas provas espetaculares, também teve outras sofríveis. Com a nota de arco que conseguiu na classificatória, teria se garantido no pódio, mas na final não conseguiu repetir uma rotina limpa. Bem como na fita, com a nota que obteve, também teria chegado ao pódio, mas com falhas cabais que cometeu, ficou longe da disputa por medalhas.

Sendo a nossa primeira ginasta, ela tem muito mais chances do que Bárbara para conseguir uma avaliação positiva, mas ela desperdiçou várias chances dessa vez, infelizmente.

E com a sina da segunda ginasta, que sempre tem a nota segurada, Bárbara acabou ficando no quase em várias provas – algo que aconteceu com a própria Natália no passado, e pudemos ver nessa edição ocorrer com Natalie Garcia e Camila Feeley – esta última que teve uma competição muita parecida a de Evita Griskenas no Campeonato Americano de GR, enquanto no Pan, Camila só conseguiu notas maiores nas falhas de sua companheira.

Creio que tivemos sorte de não ter um time mexicano forte nesse Pan, tanto Rut como Karla foram desastrosas na competição, ainda que Karla tenha conseguido uma medalha na final de fita, a única que disputou. As canadenses também foram mal durante o Individual Geral, mas nas finais voltaram a subir ao pódio em várias ocasiões.

No entanto, no conjunto, não pudemos contar com tanta sorte assim, pois mexicanas vieram fortes e tomaram dois ouros das nossas mãos. As americanas também passaram por cima de nós, com nossa ajuda. Em geral, as séries do Brasil, a meu ver, são superiores às suas concorrentes, mas não tem como se bancar em séries com erros, e isso foi um problema para o Brasil.

Podemos fazer uma relação entre a força política dos Estados Unidos e do México aqui na América, alavancada nos últimos anos com resultados crescentes de seus conjuntos, mas a única forma de responder a isso é com ginástica na quadra, e falhamos neste quesito.

As meninas pareciam prontas, mas talvez não tão seguras. As séries estão ali, pois pudemos ver uma execução boa da série de bolas no primeiro dia, bem como uma do misto no último dia, mas nas outras duas apresentações fomos acometidos por falhas, e não havia por onde subir na classificação quando nossos adversários competiam bem em quadra.

Se elas não estão preparadas psicologicamente, ou fisicamente, eu não posso afirmar, sendo que não estou ao lado delas. Mas há de se dizer que perdemos para times com técnica de aparelho e corporal pior que a nossa, o que é de se pensar na relação de como tratamos nossas ginastas aqui em comparação com outros países – especialmente com alguns relatos que chegam a público após a aposentadoria de ginastas.

Ainda assim, acho que outro problema do Brasil é a falta de humildade. Houve uma fala de uma treinadora de um conjunto brasileiro, que não o adulto, que disse que fomos os melhores em uma certa competição, mesmo os resultados não mostrando isso. Ela disse que o nosso time era o melhor em quadra mesmo perdendo para outros países, o que é um tipo de conjectura errônea que afasta de nós a responsabilidade de crescer e melhorar, e de também aceitar que não somos os melhores em todas as ocasiões.

Espero que a comissão de GR possa buscar meios de fomentar o desenvolvimento dos nossos times, bem como das categorias de base das quais dependemos para o futuro. Só assim vamos ver nosso esporte crescer.

Acredito que, de cara ao mundial e ao pré-olímpico do ano que vem, nós temos chances de conseguir as vagas, mas há que se repensar quem são as ginastas que estão competindo em melhor forma para receberem o apoio em primeiro plano, e como isso pode alavancar a situação delas. Isso já foi feito em 2015, e fez maravilhas para a visibilidade internacional da Natália.

Creio que nosso time tem todo o potencial para brigar pelas vagas para Tóquio. Mas não será fácil. E o trabalho precisa ser feito desde agora, as meninas precisam colocar as séries em dia, garantir as notas de todas as formas, em qualquer banca, seja contrária ou favorável. Não se pode colocar a culpa dos resultados apenas nos outros, é preciso encontrar o protagonismo para conseguir esses resultados. Outros países fizeram isso, muitas vezes com menos recursos do que nós. Então a responsabilidade de crescer e melhorar parte daqui.

Já sabemos onde erramos nesse Pan, agora é preciso trabalhar para não cometer os mesmos erros esperando resultados diferentes, pois eles não virão.

 

 

GINÁSTICA RÍTMICA – CAMPEONATO SUL-AMERICANO DE 2019

A competição mais importante para a GR Sul-americana ocorreu neste final de semana, dois meses antes dos Jogos Pan-americanos e servindo como um termômetro para analisar a situação das ginastas de cara a essa competição tão importante.

Em linhas gerais, a competição foi bastante interessante para o time Brasileiro, que conseguiu quase todos os ouros, ao mesmo tempo em que revelou algumas inconsistências que deverão ser resolvidas na preparação para o Pan em Lima.

No individual, levamos apenas um time de duas ginastas, com Natália Gáudio e Bárbara Domingos. Não sei qual o motivo pra não rodar outras meninas nessas competições, e preparar mais ginastas para o futuro. Mesmo assim, nossas ginastas competiram bem, alcançando notas altas e ficando no pódio em todas as finais.

Natáia retomou seu título no Individual Geral, após perder para a Bárbara no ano passado, e também conseguiu o ouro na final de Arco e Bola, além da medalha de prata na Fita. Bárbara por sua vez, ficou em todos os pódios, com bronze no Arco e Bola, prata nas Maças e no Individual Geral, além do ouro da Fita.

Em geral, as duas competiram bem, mas Natália não conseguiu executar uma série de fita à altura das suas possibilidades nas três vezes que saiu a competir. E a Bárbara teve falhas em várias das finais, o que tiraram a chance de ela disputar um lugar mais alto no pódios. Em vista dos Jogos Pan-americanos de Lima, as duas precisam encontrar uma forma de chegar a competição com uma maior constância, para que possam disputar as medalhas do Individual Geral. Já para as finais por aparelho, elas tem uma chance maior de conseguir beliscar um resultado melhor.

Já o conjunto brasileiro, como era esperado, fez uma competição praticamente sozinho, especialmente com a adição de mais dificuldade em nossas séries. Acredito que a Camila esteja planejando tentar chegar acima dos 17 pontos nas duas séries, com a possibilidade de ficar perto dos 18 no potencial da rotina, a espera do que a arbitragem vai considerar, claro.

Nos dias de classificação as meninas competiram um pouco mais corretas, mas nas finais acabaram cometendo mais erros, ainda que, considerando que as finais eram tão corridas, uma logo após a outra, e com séries tão difíceis, é de entender que acertar elas ficaria mais complicado.

Ainda assim, houveram substituições na composição do conjunto, com Beatriz Pomini entrando para competir as duas séries, e Morgana Gmach e Vitória Guerra se alternando. É preciso encontrar o time certo para o Pan, já que a princípio apenas cinco ginastas podem ir (?), assim como foi no Rio.

Todos os ouros do conjunto ficaram na mão do Brasil, o que é motivo de comemorção, com certeza. Mas para a próxima competiçao importante, o Pan de Lima, as meninas vão ter que melhorar a execução, com o objetivo de poder chegar entre as favoritas ao ouro.

Resultados completos podem ser encontrados em dois links:

AQUI

AQUI

Detalhe: o único ouro que não ficou em mãos brasileiras foi para Sol Martinez, da Argentina, na final das maças.

GINÁSTICA RÍTMICA – SELEÇÃO BRASILEIRA COMEÇA 2019

Esse ano tivemos a oportunidade de ver nossa seleção completa de Ginástica Rítmica competindo logo no início da temporada, de certo modo. No individual tivemos presença de Natália Gaudio e Bárbara Domingos em 3 eventos de Copa do Mundo, mais a participação de Heloísa Bornal e Mariany Miyamoto na World Challenge Cup em Guadalajara. Além do conjunto que competiu em Baku, local onde será disputado o mundial da modalidade este ano, e na Espanha.

Com essa primeira saída internacional, foi possível avaliar o nível da seleção frente a outros países, em especial aqui na América, tendo em vista que em dois meses começam os Jogos Panamericanos de Lima, onde o Brasil disputa seus títulos mais importante de todo o ciclo.

Em relação a nosso time individual, depois das competições internacionais ficou mais do que óbvio que nossas duas ginastas principais continuam sendo Natália e Bárbara, que em geral estiveram mais bem posicionadas que as outras meninas. Com séries mais dinâmicas e difíceis que no ano anterior, elas continuam sendo apostas para um pódio em Lima, ainda que a disputa por ele vá ser muito difícil.

Pela primeira vez em muitos anos nós vamos ter uma competição bem acirrada entre os países que querem medalha. Além das americanas, que estão a frente de todos os outros países, especialmente se contarmos com um time com Laura Zeng e Evita Griskenas, o que sobra para os outros times  é o terceiro lugar, ou algo melhor no caso de uma competiçao complicada para as favoritas.

Mas para esse bronze, teremos várias ginastas com chances de medalha. Além das nossas brasileiras, há que destacar as duas canadenses, Katherine Uchida e Sophie Crane, que conseguiram posições a frente das brasileiras em Pesaro e Sofia, além de Rut Castillo do México, que também competiu bem em Baku, e Sol Fainberg, a argentina que se posicionou muito bem em Pesaro e Guadalajara. Isso sem falar da segunda mexicana, que ainda está indefinida entre Marina Malpica e Karla Diaz, ambas ginastas fortes -Marina inclusive ficou em segundo lugar no Campeonato Pan-Americano de 2018, em frente as brasileiras.

A competição certamente será definida apenas no dia, e a ginasta que estiver mais bem preparada, e competir com menos falhas, certamente sairá vitoriosa. Estamos em uma situação mais complicada em relação aos dois últimos Jogos Pan-Americanos, quando chegamos com uma ginasta favorita que saiu multi-medalhista nas duas edições, feito inédito até então para uma brasileira.

Já no conjunto, nessas duas competições que as meninas participaram foi possível ver que o time está bem jovem, mas ao mesmo tempo adquirindo experiência com cada torneio, e mesmo nesse curto espaço de tempo elas tiveram um índice de melhora considerável.

Em Baku, as meninas não foram tão felizes na competição, ainda mais porque o nível estava muito alto, com presença da maioria dos times que vai disputar o mundial já tentando se aclimatar ao país. Nas duas séries elas cometeram erros graves que infelizmente acabaram por jogar nossas notas lá para baixo.

Contudo, em Guadalajara percebemos uma melhora potencial do time, competindo com mais segurança e conseguindo notas acima do que haviam alcançado na semana anterior.

Em relação aos países da América, creio que estamos bem nivelados com as americanas no quesito dificuldade, mas ainda abaixo do México, especialmente no conjunto misto – como pode ser observado na final em Guadalajara, onde os dois conjuntos acertaram suas séries com melhor execução, e ainda ficamos bem abaixo das mexicanas na dificuldade.

Claro, existem coisas que precisam ser arrumadas nas séries brasileiras, em especial algumas das colaborações que não estão sendo contadas por problemas de timing e critérios que não estão saindo em competição, que acabam por diminuir nossa nota de dificuldade. Com mais treino são coisas que podem ser adereçadas, sem sombra de dúvida, mas em uma disputa direta aqui no Pan, o Brasil precisa aumentar a dificuldade de ambas séries, em especial o misto, para não ter que depender de erros das adversárias para chegar ao pódio. Sem falar que, com notas na casa dos 22 pontos, que foi o que o México tirou na final em Guadalajara, é possível pensar em classificação direta para Tóquio no mundial, e não depender de uma competição que vai ser acirrdíssima aqui na América ano que vem.

A espera do Campeonato Sul-Americano, onde poderemos ver nosso time completo outra vez.

GINÁSTICA RÍTMICA – CAMPEONATO SUL-AMERICANO 2018

Semana passada aconteceu a competição mais importante da América do Sul, reunindo as ginastas de todas as categorias para a disputa continental. O Brasil fez uma excelente participação conseguindo títulos em todas categorias e o maior número de medalhas entre os participantes, o que apenas denota a nossa hegemonia por aqui.

Para acompanhar os resultados completos, segue o link da página da CBG.

Não foi possível acompanhar todas as provas, mas procurei por resultados e fui rever alguns vídeos para poder comentar um pouco sobre essa competição.

Já no fim da temporada, ficou bem óbvio que Bárbara chegou no ápice de sua forma física, o que deixa claro também que ela precisa encontrar uma maneira de atingir esse momento mais cedo no próximo ano, tendo em vista que as competições importantes serão realizadas antes do fim de Outubro.

Ela conseguiu um grande número de títulos inéditos para ela, o que eu espero que dê um empurrão para que venha com ainda mais força ano que vem, especialmente com os Jogos Pan-americanos onde ela pode conquistar medalhas para o Brasil.

Natália pareceu um pouco mais cansada da temporada, mas tendo que carregar o nome de ginasta principal do Brasil tem seu custo, claro. Ela já tem esses títulos sul-americanos, então eu diria que não conseguir renovar eles não é algo tão grave, mas ela ainda fez uma competição muita boa, com quatro pratas individuais.

Heloísa também fez uma competição boa, conseguindo uma medalha individual no arco, mas ela ainda está bem limitada à terceira colocação dentro da nossa seleção, por isso se quiser brigar por uma das vagas dos Jogos Pan-americanos vai precisar trabalhar ainda mais para o ano que vem.

O conjunto que nos representou no adulto não foi o principal que treina em Aracaju, mas ainda assim fizeram uma competição regular, conquistando dois ouros e uma prata. Já as categorias de acesso a adulta também tiveram chuva de ouros com as brasileiras, o que prova que teremos futuro com mais ginastas.

Essa competição encerra a temporada internacional da seleção oficial – pois a Eduarda Carvalho competiu no GP da Espanha nesse final de semana também – e agora é época de férias e depois preparar as séries novas para a próxima temporada.

Claro que o Brasil já está atrasado, tendo em vista que vários conjuntos da Europa já tem seus conjuntos prontos – incluindo os da categoria júnior, que vai ter mundial no ano que vem

Nos veremos no começo da próxima temporada.